Terça-feira, 6 de Outubro de 2015

Envelhecer para trás: o estudo anti-horário

Counterclockwise (06-10-15)

Sabia que a idade pode não ser mais do que um estado de espírito, e que se pode envelhecer no sentido contrário?

Diz o ditado que “você só é tão velho quanto se sente”, mas na verdade talvez só seja tão velho quanto pensa que é. Ellen Langer, a mais antiga professora de psicologia em Harvard, diz que a raiz da boa ou má saúde está dentro do próprio cérebro. A evidência por trás das ideias de Langer provém de uma experiência revolucionária, a que chamou o estudo anti-horário, realizada em 1981.

A experiência de Langer focou-se em dois grupos de homens, na casa dos 70 anos. Cada grupo passou 5 dias, num mosteiro transformado para parecer como se estivessem em 1959. Tudo, desde livros a revistas, programas de televisão e música a tocar no rádio, foi concebido para fazer os homens sentir que os relógios tinham recuado 22 anos no tempo. Para um dos grupos, foi introduzido um componente especial: um princípio psicológico. 

Um princípio mental é algo que desencadeia uma reacção de auto-cura no corpo. No estudo anti-horário, o princípio era duplo:

  • Em primeiro lugar, foi dito aos homens que, se eles fizessem uma tentativa psicológica para ser a pessoa que eram há 22 anos atrás, iriam sentir-se tão jovens como eram então.
  • Em segundo lugar, cada homem trouxe consigo uma fotografia dessa altura. Não eram permitidos espelhos, nem qualquer outra coisa que pudesse perturbar a fantasia.

No início da experiência, os homens efectuaram uma completa bateria de testes que os pontuou numa escala de valores, incluindo:

  • Destreza
  • Força de preensão
  • Flexibilidade
  • Audição
  • Visão
  • Memória
  • Cognição

A hipótese de Langer era que estas medidas iriam melhorar após a estadia de cinco dias, no mosteiro − e ela estava certa. No final, os homens superaram o grupo de controlo em termos de flexibilidade e destreza. Juízes independentes observaram que eles se sentavam mais aprumados e pareciam mais jovens. Talvez o mais impressionante foi que mesmo a sua visão melhorou.

Apesar dos resultados incríveis, Langer decidiu não divulgar amplamente os resultados do estudo anti-horário. Nessa época, ninguém falava da medicina corpo-mente e ela temia que o seu trabalho era muito diferente para ser aceite.

Em 2010, a BBC transmitiu uma recriação televisionada do estudo, e o trabalho de Langer alcançou finalmente um público mais vasto. O estudo foi replicado para um espectáculo chamado “The Young Ones” (Os Mais Jovens), e a nova experiência criou as mesmas mudanças dramáticas, como tinha acontecido na pesquisa original, em 1981. Experiências semelhantes foram posteriormente filmadas na Coreia do Sul e nos Países Baixos.

O envelhecimento não é o único processo físico que Langer associou à auto-percepção de uma pessoa. Os seus mais de 200 estudos manipulam muitas vezes as percepções de tempo dos sujeitos, a fim de medir os efeitos sobre a saúde.

Por exemplo, Langer realizou um estudo da diabetes, usando um relógio especial cuja velocidade poderia ser ajustada para metade ou para o dobro, a fim de alterar a compreensão dos sujeitos quanto à passagem do tempo. Ela teorizou que os níveis de glicemia de um sujeito iriam variar com base na percepção do tempo passado, e não no tempo real passado. Tal como no estudo anti-horário, ela estava certa: o açúcar no sangue teve um pico quando os pacientes esperavam que isso acontecesse, em vez de consoante o tempo real após a refeição.

Da mesma forma, os monges tibetanos podem usar a meditação para fazer baixar a pressão arterial e alterações comportamentais têm ajudado a melhorar os sintomas de hipertensão. Quanto mais os pesquisadores como Langer aprendem sobre o modo como a mente funciona, tanto mais parece que as melhores curas à nossa disposição podem ser psicológicas. 

http://undergroundhealthreporter.com/aging-backwards-the-counterclockwise-study/

  

publicado por Rui Vaz às 22:12
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2 comentários:
De Maria Araújo a 7 de Outubro de 2015 às 19:38
"aprendem sobre o modo como a mente funciona, tanto mais parece que as melhores curas à nossa disposição podem ser psicológicas".

Acredito que sim.
De Rui Vaz a 7 de Outubro de 2015 às 21:01
É essa também a base ou justificação da chamada "medicina da energia", como o Reiki e terapias similares. No fundo, aquilo que já se começou a vislumbrar, há um século atrás, com a medicina psicossomática, vem-se agora alargando progressivamente até ao novo conceito mais abrangente da "medicina corpo-mente".
Daí, a fundamental importância do controlo emocional, algo que deve ser aprendido logo de tenra idade. Só há saúde no equilíbrio fisiológico do corpo e psicológico da mente, ambos estão interligados numa união indissociável.
Claro que se deve ainda considerar os factores sociais, mas mesmo ao nível individual há muitíssimo que se pode fazer... basta saber e querer!

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